segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Coisas que aprendi na Faculdade (Parte 34)

No início do ano, meu professor de Filosofia disse que nos tornaríamos desonestos ao longo do curso. Por causa da carga de leituras absurda, iríamos matar aulas para ler, ler durante as aulas ou mesmo deixar de pegar polígrafos por não gostarmos da cadeira/professor/assunto/pressão atmosférica. No final de semestre, juntando tudo isso com os trabalhos e provas, faríamos muito pior. Não acreditei.


Ele estava certo.

Aloprando em Curitiba (Parte 6)

Dia III: Saíndo do Armário
Parte III - Meio da Tarde

... Pois é. Já deve ter dado pra notar que tinha me metido em furada. O GDV começaria lá pelas 14:30, 15 horas. Tinha impressão de que a coisa iria longe e que a discussão seria brutalmente chata. Já estava arrependido de ter me oferecido como voluntário, mas era tarde. Não iria refugar.

Três tipos de pessoas vão nestes grupos de discussão: voluntários como eu, desavisados que não sabem o que têm pela frente como meu colega Álvaro (que não aguentou 30 minutos) e os que gostam de debater estatuto. Tenham medo, muito medo deste tipo de gente. Eles eram maioria naquela salinha do canto do Cecília. Não lembro de todos eles, mas dos mais falantes é impossível esquecer. Darei uma breve descrição de do histórico e personalidade de quem eu lembrar. Pensem nisto como sendo o Street Fighter, e os participantes dos GDVs como os personagens. Ei-los:


Santiago - O paulistano mais paulistano de toda São Paulo. Cara gente boa mas com péssimo gosto para hobbies. Da mesma forma que eu, está envolvido neste tipo de indiada desde o primeiro semestre de faculdade. É debochado ao extremo, mais do que eu, e não vê nenhum problema em descer a lenha em ninguém. Pensem nele como sendo o E. Honda do Street Fighter II, só que com uma suissa maior e com cabelo curto. Estuda na Universidade de São Paulo (USP) e vai dessa para melhor este ano (se forma, quero dizer).

Leo - Esse cara estava na organização do ENEP inteiro, fez parte de umas 2 mesas-redondas, e quando precisava de um porta-voz, era ele quem dava as caras. Devia ter falado nele em posts anteriores, mas memórias encobridoras me impediram, por causa de sua voz extremamente irritante. Não que a voz dele realmente seja irritante, mas tive que ouvi-la tantas vezes por tanto tempo que fico nervoso só de pensar nela. É educado, tem fala macia (e chata), e é metido em politicagens até o pescoço. Parece o Dhalsim, só sem aquelas pinturas no cucuruto. Estuda na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Minerim - Não lembro o nome dele, infelizmente, pois é um cara legal, apesar de gostar de falar de estatutos. Como um bom mineiro, é bencalmim e fala "trem". Comparando com personagens do Street Fighter, ele é quase um Zangief, só que mais cabeludo, mais barbudo e menos musculoso (e mais simpático). Estuda na Pontíficia Universidade Católica (PUC), só não me pergunte qual, por que o ônibus que veio de Minas Gerais trazia estudantes de 4 PUCs diferentes.


Carioca Chata do PT light - O apelido diz tudo: carioca, chata e petista. Nada contra petistas. Não gosto da oposição também. Tem uma voz verdadeiramente irritante. Eu pensei em dizer que ela é parecida com o Blanka, mas como me sinto generoso, digamos que ela parece a Sakura (do Street Fighter, não a Card Captor!). Vocês decidem o que vocês preferem. Estuda na PUC do Rio de Janeiro (PUCRJ).

Peguete da Carioca Chata - Entrou mudo, saiu calado. Ou pelo menos, não disse muita coisa. Nem me dou ao trabalho de procurar algum personagem para representá-lo. Acho que estuda na PUC de São Paulo (PUCSP).

Amanda - Garota muito legal. É engajada em política a ponto de ser a organizadora do GDV de Estatuto. Parece a Shun Li com roupas de gente. Estuda na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Andarilho (eu) - Esquizóide, paranóide e debilóide por ter entrado numa furada dessas. Não gosta de gente prolixa, que por incrível que pareça eram os mais numerosos neste GDV. Gosta de cookies. Parece com o Ken (não o namorado da Barbie). Estuda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ao contrário do que parece no capítulo anterior, esse GDV não foi nada empolgante. Aposto que mesmo o Narrador da Seção da Tarde seria incapaz de narrar esta porcaria de forma positiva (Essa galerinha do barulho vai passar por altas discussões para decidir um alto estatuto da pesada). Foi tão chato que, se desse para pedir reembolso de tempo perdido, pediria 6 horas da minha vida de volta.

No começo da discussão, a Amanda fez uma dinâmica de grupo (por que psicólogo a-d-o-r-a dinâmica de grupo), com umas frases no quadro, onde tinhamos que identificar quais faziam parte do estatuto da CONEP. A única coisa que prestou desta dinâmica foram os comentários do Santiago, que escreveu o estatuto, como "Esse parágrafo é um frankenstein, meu!" ou "de onde cê tirou essa daí, da proposta que a Conlute queria nos empurrar goela abaixo?". Depois, começamos a ler o estatuto de cabo a rabo. Para variar, um ou outro idiota ignorava que estavamos apenas lendo, e ficava reclamando do inciso 7 do parágrafo 4 da seção III. Daí, foi um pulo para um discussão sobre o status do Movimento Estudantil no Brasil. Era interessante, mas fugia do assunto de uma maneira indecente. Mesmo assim, valeu a pena pra ver o Santiago falar do DCE de misses e playboys que foi eleito na USP por ter feito uma proposta de gestão de 1 página onde a palavra "festa" aparecia 7 vezes e chamar alguns antigamente opositores da UNE de "UNE-boys" e ver a Carioca Chata ficar louca da vida, reclamando que "Não era assim que se fazia movimento estudantil, cara!". O Minerim falando dos anarquistas da universidade dele avacalhando com o DCE também foi legal. Meu colega Álvaro estava lá também, não aguentou e foi embora. Claro, ele podia. Depois disso, voltamos a ler, mais uma vez desde o início, mas fazendo destaques do que achávamos importante. Foi mais ou menos assim: a Amanda lia "Seção II", o Leo levantava a mão e pedia "Destaque". Praticamente todo o estatuto foi destacado por ele. Considerando que avaliaríamos apenas os destaques, seria uma loooonga tarde. Acredito que todos fizeram algum tipo de destaque, inclusive eu (estava duvidando de que o ENEP sairia anualmente). Foi aí que começou a merda toda.

Discutiríamos os destaques. Todos teriam direito a voz e voto. Se quisesse falar, teria que se inscrever, e quando chegasse sua vez, poderia falar até dois minutos. Repito: ATÉ dois minutos. Acho que só eu segui essa regra. Esta parte foi tão chata que vou resumir o máximo possível. Basicamente, passamos uma hora e meia discutindo os dois primeiros destaques, que eram os mais mixurucas. Me indignei com a falta de objetividade do povo e abri a boca. Andamos mais um pouco. O Leo e a Carioca Chata se puxaram para serem murrinhas. Ela especialmente. Houve um momento que eu cansei, simplesmente não SUPORTAVA MAIS simplesmente OUVIR a voz horrorosa dela. Eu pensava "Já deve ter passado dos dois minutos há muito tempo". Foi quando ela finalmente tomou cortaço, pois ficou falando por 5 minutos. Mais duas horas depois, reclamei de novo, pedindo por respeito ao regimento da discussão, pois, se não éramos capazes nem ao menos de respeitá-lo que dirá de um estatuto. Aliás, o regimento interno foi jogado fora. Tinhamos estipulado um prazo de terminar a discussão até às 18:00. Ficamos lá, cozinhando em água fria, até às 19:30. Deadlines are for sissies. Prazos são para frescos. Claro que reclamei da falta de respeito pelo horário.

Falando assim, parece que eu era o mais reclamento. Pelo contrário, eu era o segundo mais quieto da sala (atrás só do Peguete da Carioca Chata). Talvez se tivesse falado mais aquela merda tivesse acabado mais cedo, mas não sentia que tinha nada para contribuir com a discussão. O que falei de relevante foi ignorado pelos outros. Bem, dane-se, fiz minha parte e falei o que achava.

Já eram 19:30, e estávamos ficando com fome. Decidimos continuar a discussão na manhã seguinte.Fiquei estupendamente feliz quando eu perguntei "acabou?" e responderam que sim. Não fiz a menor cerimônia de sair correndo da sala para jantar. Foi um prazer hedonista tremendo. Sabia que teria que sofrer de novo no dia seguinte, perder a chance de fazer uma atividade bacana para ficar ouvindo lero-lero de politiquentos. Mas naquele momento, naquela hora, eu podia comer. E eu ia. Comer um xis no Alemão, era tudo que eu queria.

Continua...